Especialistas analisam causas do acidente com avião da Air India

Investigações sobre acidentes aéreos costumam ser longas e complexas, frequentemente durando meses ou até anos para determinar as causas exatas das tragédias. No caso recente do avião da Air India que caiu após decolar do Aeroporto Internacional Sardar Vallabhbhai Patel, em Ahmedabad, com destino a Londres, imagens e vídeos já suscitam análises iniciais de especialistas em aviação.

O desastre, ocorrido nesta quinta-feira, deixou mais de 290 mortos, havendo até agora confirmação de apenas um sobrevivente entre os passageiros.

Um vídeo amplamente compartilhado mostra a aeronave descendo entre prédios e com o nariz apontado para cima, uma posição pouco usual segundo John Cox, ex-piloto de companhias aéreas e diretor executivo da Safety Operating Systems. “A posição sugere que o avião deveria estar subindo, mas, na verdade, está descendo. A questão é: por quê?”, questionou Cox.

Os especialistas, porém, alertam contra conclusões precipitadas. Acidentes normalmente envolvem uma série de falhas, que vão desde problemas mecânicos, erros humanos, manutenção inadequada, até problemas ambientais, como o impacto de aves. Muitas hipóteses iniciais podem ser descartadas ao longo das investigações técnicas.

Greg Feith, ex-investigador do NTSB dos EUA, pondera que inúmeras perguntas precisam ser respondidas: a configuração do avião na decolagem estava correta? A tripulação seguiu todos os procedimentos? Houve perda de propulsão ou contaminação no combustível? O combustível era suficiente para o trajeto?

O NTSB dos EUA enviará equipe para apoiar a investigação, que será liderada pela autoridade de aviação civil indiana, enquanto a FAA norte-americana e a autoridade do Reino Unido — destino do voo — também prestarão suporte técnico.

Ben Berman, consultor e ex-investigador de acidentes, destacou que a aparente descida controlada do avião no vídeo pode indicar tentativas dos pilotos de reduzir a velocidade antes do impacto, gesto que poderia mitigar danos e salvar vidas. Porém, isso também pode ser interpretado de diferentes maneiras.

Outro ponto observado foi a temperatura ambiente no momento da decolagem, que ultrapassava 38°C em Ahmedabad. Temperaturas elevadas reduzem o desempenho dos motores e diminuem a capacidade de sustentação, fatores que complicam a decolagem de aeronaves pesadas.

Apesar de o processo de investigação poder durar mais de um ano, medidas preventivas podem ser tomadas antes disso, caso sejam identificadas necessidades de segurança urgentes, como ressalta Feith.

As caixas-pretas do avião terão papel fundamental, trazendo dados como tempo, altitude, velocidade e conversas da cabine, que permitirão entender o que ocorreu nos momentos finais do voo. Os especialistas ressaltam que o modelo Boeing 787, envolvido no acidente, registra centenas de parâmetros que poderão esclarecer os fatos rapidamente, caso os dispositivos estejam em boas condições.

Análises de vídeo levantaram dúvidas sobre a correta configuração dos flaps — dispositivos que auxiliam na sustentação durante a decolagem. De acordo com Feith, no vídeo é possível ver o trem de pouso abaixado e os flaps na posição aparentemente recolhida, diferente do que seria esperado para um jato desse porte. Há possibilidade de ter havido falha ao configurar a aeronave corretamente para a decolagem ou de os pilotos terem sido surpreendidos por um problema grave.

Por fim, Berman destaca que alguns procedimentos, como manter o trem de pouso abaixado após a decolagem, podem estar ligados a tentativas de resfriar os freios, especialmente em aviões pesados. No entanto, sem acesso aos dados completos, qualquer avaliação permanece especulativa. Os próximos passos da investigação buscarão justamente esclarecer essas dúvidas.

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