As novas diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) redefiniram a classificação dos níveis de pressão arterial. Agora, valores entre 12 por 7 e 13 por 8 não são mais considerados normais, e sim “pressão elevada” – uma categoria intermediária entre a normalidade e a hipertensão. Isso se baseia em pesquisas recentes que apontam riscos crescentes de doenças cardiovasculares já nesses patamares, o que pode justificar um acompanhamento preventivo.
Segundo John William McEvoy, do Instituto Nacional de Prevenção e Saúde Cardiovascular da Irlanda, “o risco cardiovascular se distribui em uma escala contínua”. Ou seja, quanto mais controlada a pressão, melhor para o coração e saúde geral.
A cardiologista Aurora Issa, do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), ressalta que pessoas com pressão naturalmente mais baixa, sem sintomas, não precisam se preocupar: “Se alguém tem pressão 10 por 6 e está bem, isso é normal para o indivíduo”.
A nova categoria de pressão elevada corresponde a valores sistólicos entre 120 e 139 mmHg e diastólicos entre 70 e 89 mmHg. A partir de 140/90 mmHg permanece o diagnóstico de hipertensão. No Brasil, as normas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicadas em 2020, consideram 12 por 7 como normal, mas estão previstas atualizações em 2025 alinhadas à ESC.
De acordo com Fábio Argenta, da SBC, isso é um alerta para a população, já que um terço dos brasileiros adultos é hipertenso. O tratamento pode ser indicado já na faixa de pressão elevada para pacientes de risco – como quem já sofreu eventos cardíacos, tem lesões nas artérias ou problemas crônicos. O primeiro passo é mudar hábitos: parar de fumar, reduzir sal, emagrecer e praticar atividades físicas. Se não bastar, pode ser necessária a introdução de medicamentos.
Outra mudança importante é a valorização da medição domiciliar da pressão, utilizando métodos como MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) ou MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial), para evitar diagnósticos imprecisos causados por nervosismo em consultórios. A medição em casa é feita com equipamentos disponíveis em farmácias e pode fornecer dados mais confiáveis para o diagnóstico.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que, para medir a pressão em casa, o paciente esteja em ambiente tranquilo, sem estimulantes, sentado e em repouso. O manguito deve estar no braço, sempre no mesmo, com medições pela manhã e à noite por pelo menos cinco dias seguidos. Já no MAPA, o paciente usa o equipamento durante 24 horas, registrando as atividades diárias para melhor interpretação dos resultados.
O controle adequado da pressão é fundamental: segundo a OMS, 1 a cada 3 adultos tem hipertensão, mas metade não sabe disso e apenas 20% segue o tratamento correto. No Brasil, 45% dos adultos têm o problema, mas 62% cuidam adequadamente. A hipertensão é silenciosa e lesiona órgãos como o coração, cérebro e rins ao longo do tempo.
Os remédios para pressão oferecem poucos efeitos colaterais e estão disponíveis no SUS pelo programa Farmácia Popular. O diagnóstico e controle previnem complicações sérias, melhorando a qualidade de vida da população.
Como medir a pressão em casa?
Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA):
- Faça a medição em ambiente silencioso e confortável;
- Evite café, cigarros, alimentos e exercícios por pelo menos 30 minutos antes;
- Relaxe sentado por 3 a 5 minutos, jambes descruzadas, braço apoiado na altura do coração;
- Enrole o manguito no braço e repita a medição duas vezes ao dia (manhã e noite), por cerca de cinco dias.
Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA):
- Equipamento instalado na cintura, monitora a pressão a cada 20 minutos durante 24 horas;
- Evite banho e atividades físicas enquanto estiver com o aparelho;
- Mantenha o braço relaxado nas medições e faça um diário das atividades.
O cuidado com a pressão arterial traz mais saúde ao longo da vida e previne complicações evitáveis.