Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou resíduos de 14 diferentes agrotóxicos na água de chuva coletada nas cidades de São Paulo, Campinas e Brotas, no Estado de São Paulo. Os pesquisadores destacam a presença de substâncias proibidas no Brasil por riscos à saúde, como potencial cancerígeno.
O levantamento analisou amostras em diferentes áreas urbanas e rurais ao longo de dois anos, entre 2019 e 2021. Entre os compostos detectados, o herbicida atrazina foi encontrado em todas as amostras – sem exceção –, enquanto o fungicida carbendazim, mesmo banido no país, estava em 88% das amostras analisadas. Outro destaque é o herbicida tebuthiuron, registrado pela primeira vez na água de chuva (75% das amostras).
A pesquisa, publicada na revista Chemosphere, aponta que a contaminação resulta da dispersão dos produtos na atmosfera, seja no material particulado que se mistura às gotas de chuva, seja na fase gasosa, dissolvida na neblina. Isso revela que resíduos de pesticidas podem ser transportados por longas distâncias, contaminando até áreas urbanas densamente povoadas, como São Paulo.
Segundo a professora Cassiana Montagner, orientadora do estudo, embora não haja risco imediato ao se consumir água da chuva, a exposição contínua e prolongada pode trazer sérios danos à saúde humana e animal. Ela ressalta que as concentrações encontradas são semelhantes às identificadas em rios e águas de abastecimento provenientes de mananciais contaminados por pesticidas.
O herbicida 2,4-D se destacou em amostras de Brotas, levantando preocupação pela sua alta capacidade de dispersão aérea e pelos impactos negativos já reconhecidos para fertilidade humana, que levaram à proibição da aplicação aérea pela Anvisa em 2023.
Todas as coletas das três cidades analisadas apresentaram pelo menos um dos contaminantes, reforçando o alerta ambiental: o uso contínuo de agrotóxicos resulta em sua presença persistente na atmosfera e na água da chuva.
Como acontece a contaminação da chuva?
Ao serem aplicados nas lavouras, agrotóxicos são parcialmente liberados no ar. Vento, temperatura e umidade afetam sua dispersão. Posteriormente, essas substâncias podem condensar com as gotas de chuva e contaminar rios ou reservatórios distantes das áreas agrícolas.
Quem não bebe água da chuva se contamina?
A água da chuva alimenta reservatórios e rios usados para abastecimento. Assim, mesmo sem consumir diretamente, as pessoas entram em contato com esses contaminantes pela água tratada da torneira.
Quem mora em área urbana também corre risco?
Agrotóxicos dispersos pelo ar atingem áreas distantes das plantações, afetando inclusive regiões urbanas. Ademais, os moradores dessas áreas consomem água proveniente de reservatórios que recebem águas contaminadas pela chuva.
Há risco para quem bebe água tratada?
Ainda que as concentrações não excedam os limites legais, nem todos os compostos possuem padrões de segurança definidos. A exposição crônica pode causar efeitos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
A Secretaria de Agricultura de SP afirmou que mantém monitoramento constante e reforçou que as leis estaduais de agrotóxicos passaram a vigorar em março de 2024, com punições previstas para o uso irregular dessas substâncias.